Uma verdadeira revolução está sacudindo a Biologia: é o uso cada vez maior dos computadores nas pesquisas sobre os seres vivos. Esta progressão tem sido tão rápida e avassaladora, que já existem não apenas uma, mas várias subespecialidades da Biologia e da Informática, que se entrelaçam, formando um mosaico multidisciplinar riquíssimo, onde aos poucos a antiga distinção entre as duas áreas se dissolve. Cada vez mais, o biólogo se torna parecido com o engenheiro, quanto ao uso dos computadores, da matemática, etc.
Por exemplo, um dos grandes estímulos para o desenvolvimento acelerado da Informática Biológica tem sido o esforço científico de mapeamento do genoma de diversas espécies (genoma é o conjunto dos genes que regulam todo um organismo biológico). Sem a ajuda da Informática seria impossível uma pesquisa deste tipo, mesmo com organismos mais simples, como fungos. Tanto é assim, que o famoso projeto HUGO (mapeamento do genoma humano) tem investido grandes somas de dinheiro na infraestrutura computacional. Outra área de grande desenvolvimento é constituída pelas bases de dados biológicos informatizadas, que podem ser consultadas através de gigantescas redes acadêmicas internacionais de computadores, tais como a Internet e a Bitnet, as quais, juntas, têm mais de 2 milhões de computadores interligados em 120 países. Atualmente, é impensável realizar pesquisa, desenvolvimento e produção em certas áreas da Biologia, como Engenharia Genética, sem o acesso as bases de dados contendo seqüências de DNA, genomas, proteínas, organismos, etc. No Brasil, já existem algumas instituições de pesquisa gerenciando bases de dados desse tipo, tais como a Rede Brasileira de Biologia Molecular, da EMBRAPA, e a Base de Dados Tropical, da Fundação "André Tosello", em Campinas. No exterior, algumas organizações de pesquisa biológica, como o European Molecular Biology Laboratory (EMBL), em Heidelberg, assumiram o papel de gigantescas provedoras de informação em forma eletrônica em Biologia.
Mas um outro fenômeno muito interessante está acontecendo. Se, de um lado, a Informática ajuda a Biologia a fazer novas descobertas, do outro, a Informática está começando a se inspirar nos seres vivos para desenvolver poderosos métodos de processamento de dados e de Inteligência Artificial. O fechamento deste círculo de influência mútua entre a Informática e a Biologia é ímpar na história dos computadores. Por exemplo, já existem programas de computadores que imitam a seleção natural e a transmissão genética, ou então o funcionamento das redes de neurônios cerebrais ou até mesmo a organização das sociedades animais, como as de abelhas e formigas. Os cientistas têm conseguido comprovar que programas inspirados em propriedades dos seres vivos são muito mais eficientes do que as técnicas tradicionais em alguns tipos de aplicações.
É possível que a Biologia seja a primeira ciência natural complexa a transpor os limiares estabelecidos pelas ciências eminentemente quantitativas, como a Física. Se isso acontecer, certamente será por mérito quase exclusivo da Informática, que se constitui a única metodologia capaz de enfrentar a complexidade matemática dos sistemas biológicos. A semana passada, a UNICAMP realizou o primeiro congresso brasileiro sobre Informática e Biologia, com excelentes resultados. Aos poucos, vamos nós entrando no primeiro mundo, também.
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