As notícias do "front" industrial podem ser interpretadas como excitantes, ou como altamente melancólicas, dependendo do ponto de vista que o leitor quiser abraçar. O desemprego causado pela incorporação de novas tecnologias no processo produtivo, como automação de escritórios, robótica, automação comercial e bancária, etc., parece ser estrutural e irreversível. O aumento da eficiência provocado pela tecnologia elimina definitivamente muitos empregos das folhas de pagamento das empresas, e estes empregos não voltarão nunca mais. É uma tendência irreversível, não importa o que achemos dela. A busca da eficiência, da economia, da produtividade e da competitividade, é, hoje, um processo irreversível.
Vejam o que acontece com a automação de escritórios, por exemplo, que está sendo, em minha opinião, um dos mercados de trabalho que produzirá o maior contingente de desempregados. Com as redes locais de computadores, uso de softwares de processamento de texto, cálculo, arquivamento e comunicação, milhões de escriturários e secretárias estão sendo dispensadas. Toma menos tempo, para o executivo, escrever pessoalmente um fax no computador e despachá-lo automaticamente, do que passar por todo o penoso e longo processo de chamar a secretária, ditar o teor do fax, ler e corrigir (geralmente duas ou mais vezes, a não ser que sua secretária tenha mestrado em literatura pela UNICAMP), mandar imprimir e enviar. O tradicional ditado à secretária, ainda muito usado porque toma menos tempo do executivo, será substituído pelo programa de reconhecimento de voz, tornando totalmente automatizado o processo de ditar e imprimir cartas perfeitas (a IBM acaba de lançar um produto sensacional no mercado de PC's, que é capaz de transcrever ditados com alta qualidade e velocidade). Mais secretárias para a rua...
Da mesma forma, o correio eletrônico e a Internet abolirão o correio convencional, a biblioteca, os mensageiros e os milhões de intermediários e tecnologias que existem apenas para criar e fazer funcionar o processo de intercomunicação entre pessoas nos ambientes de trabalhos. As redes de computadores vão permitir a teleconferência e o teletrabalho, e isso vai diminuir a necessidade de transporte. Finalmente, embora isso ainda não tenha pegado bem, com exceção do Japão, é o uso de robôs industriais e da automação integral das linhas da produção, que chegam a substituir 20 a 30 operários por apenas um !
A tendência, entretanto, não é um pouco nova. No século 18, quando surgiram os primeiros teares semiautomáticos do tipo Jacquard, na França, milhares de artesãos manuais perderam os seus empregos em toda a Europa, ocasionando, inclusive, um problema social seriisimo, que levou os operários à revolta várias vezes. Os ludditas, como eram chamados, entravam nas fábricas e destruíam os teares, mas isso não teve a menor influência no curso da história, e provocou um grande desemprego estrutural, que acabou sendo absorvido por novas indústrias da época. E assim sempre ocorreu, na história da humanidade. As máquinas a vapor substituiram o trabalho braçal, as máquinas de escrever os caligrafistas, as máquinas de calcular e os computadores os calculistas, desenhistas e inúmeros outros "istas"... E isso em todos os setores. Imaginem, por exemplo, quantos empregos intermediários são eliminados por uma única linha aérea entre duas cidades.
O fato é que, até recentemente, a evolução tecnológica e social se encarregava de gerar novos empregos, formando um ciclo auto-substitutivo que mantinha longe a catástrofe social do desemprego alto e irreducível. Agora, entretanto, o que preocupa muito é que a velocidade das mudanças está ficando tão alta, que não está dando mais tempo para o tecido social se adaptar e reciclar empregos. O resultado, especialmente para os países desenvolvidos, que já tinham se acostumado ao pleno emprego, ao emprego permanente, e ao emprego bem pago, é catastrófico. Não adianta mais estudar. Não adianta mais se especializar. Se o jovem escolher o curso errado, estará condenado ao desemprego permanente. Isso é terrível e tira a motivação das pessoas.
É o que está começando a acontecer.
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