O negócio do século se chama software. Na era da informação, onde os computadores se multiplicam como coelhos incontroláveis (somente nos EUA, foram vendidos 60,5 milhões de microcomputadores no ano passado), o valor agregado de software adquirido por indivíduos e empresas pode atingir um valor global de mais de 60 bilhões de dólares até o final do ano. Com a queda dos preços de hardware, atualmente ele está custando praticamente a mesma coisa na composição final de custos. Embora os preços de software também estejam caindo, eles não dimunuiram tão rapidamente ou tanto quanto os do hardware. Além disso, quando mais "especializado" for o software, maior o seu preço, gerando grandes disparidades entre produtos, que afinal, não são "concretos", como os equipamentos: são meras invenções abstratas (criações intelectuais, idéias, concepções, procedimentos lógicos) materializados em um disco de computador.
Essa imaterialidade do software dá ao Brasil e outros países em desenvolvimento uma boa (e imperdível) chance de entrar em grande estilo no mercado mundial de Informática. Afinal, raciocinamos, é preciso apenas bons cérebros para criar bom software. Errado. Além do excelente nível técnico e da qualidade do software, são necessárias outras coisas, como conhecimentos especializados de marketing, comércio internacional, etc. Atualmente, devido à predominância quase que monopolista dos produtos da Microsoft Corporation no mercado de sistemas operacionais e aplicativos genéricos para microcomputadores, é difícil para qualquer país conseguir uma beiradinha desse mercado. Restam então dois modelos para ganhar dinheiro com software em nível internacional: o modelo indiano, que consiste em vender mão de obra de programação ultra- barata para os grandes produtores mundiais, ou o modelo brasileiro, ainda em gestação, que procura penetrar mais no mercado de aplicativos especializados ou de maior valor agregado. O que é exportado é o produto, e não os seus produtores. É uma via muito mais difícil de ser conseguida inicialmente, mas que parece ter mais chances de sucesso permanente a longo prazo, se der certo.
O governo brasileiro, preocupado em transformar o Brasil em uma das potências no mercado internacional de software, criou, há poucos anos, um bem sucedido programa altamente estruturado de apoio à exportação de software e geração de competitividade. Chama-se Softex 2000, e tem por meta conseguir para o Brasil cerca de 1% do mercado mundial no ano 2000. É um dos três programas especiais do Ministério de Ciência e Tecnologia, através do CNPq (os outros são a RNP, na área da Internet, e o PROTEM, um projeto de colaboração empresa-universidade na área da Informática). O programa Softex 2000 é sediado, assim como a RNP, em Campinas, em um belo sobrado em Barão Geraldo, e coordenado pelo Dr. Eduardo Costa, um ex- pesquisador do CPQd, e diretor do CNPq. Para ampliar sua atuação, o programa tem 17 núcleos regionais, situados nas principais capitais e em algumas cidades onde existe importante presença de produtores de software.
O Softex é um belo modelo de intervenção e incentivo governamental numa área de negócios. Como exemplo interessante de sua atuação, está lançando um programa chamado GENESIS, que tem por obtivo fomentar o aparecimento de novas empresas e empresários na área de software. Outra iniciativa muito necessária é um catálogo eletrônico contendo mais de 2.000 softwares produzidos no Brasil, que estará sendo oferecido via Internet e via disquetes, gratuitamente, dentro das próximas semanas. O Softex ainda promove muitos eventos, como seminários especializados sobre como exportar software (o próximo será em maio, em Belo Horizonte), e tem recursos para apoiar a presença brasileira em feiras especializadas internacionais, como a CeBit, na Alemanha, e a COMDEX, nos EUA. Oferece uma infraestrutura de apoio e informação às empresas que se filiam a um dos núcleos regionais do programa, tal como acesso à Internet, guias impressos, consultoria especializada, etc. e até tem patrocinado, em uma iniciativa muito interessante e criativa, uma disciplina nos cursos de graduação de Informática, com o objetivo de ensinar os estudantes a montar empresas e planos de negócios na área de software. O curso pioneiro em Belo Horizonte já gerou cerca de 15 novas empresas, apenas naquela cidade.
Os primeiros resultados estão começando a aparecer. No ano passado, apenas para os EUA (um mercado grande, mas saturado de concorrentes), o Brasil exportou cerca de 60 milhões de dólares, o que é um grande feito. Teremos que atingir 10 vezes este nível, mundialmente, para começar a fazer sentir nossa presença. Mas creio que temos potencial para chegar lá.
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