O Brasil é um país curioso, mesmo. Apesar de todo o nosso atraso social e educacional, existem coisas tão avançadas por aqui que até um estrangeiro com a maior boa vontade desse mundo não consegue acreditar. Um exemplo é a declaração de imposto de renda, aquele ritual sofrido que todos os brasileiros de classe média têm que fazer todo ano (os de classe alta, quando fazem, têm contadores e advogados só para isso…). Pois bem, o Brasil é um dos países mais avançados do mundo nesse aspecto, não só na excelência tecnológica da solução realizada pela Receita Federal, como também no número abismal de gente que utiliza essa opção.
De minha parte, este é o quarto ano sucessivo que utilizo o programa da Receita Federal, e ele tem ficado cada vez melhor e mais fácil de usar. Uma declaração não muito complicada, com todos os documentos à mão, não demora mais que duas ou três horas para fazer. Os dados da declaração eletrônica anterior são totalmente aproveitados, inclusive a declaração de bens. A interface de usuário do sistema desse ano é simplesmente excelente (a única coisa que chateia são os avisos e recomendações que aparecem na tela, cada vez que se entra em uma seção nova. Podia aparecer apenas uma vez).
Mas o melhor mesmo ficou por conta da entrega pela Internet, que foi feito por mais de 600.000 pessoas (quer dizer que os dados do Comitê Gestor Internet/BR são mesmo corretos !). Acho que é o país com maior número de entregas de declaração de IR. Também funciona muito bem. A Receita tomou uma decisão correta, que foi a de desenvolver um programa especial para efetuar a entrega e obter a autenticação e recibo. Existiriam outras maneiras de fazer, usando o próprio Netscape ou Internet Explorer e algum script de segurança. Afinal os bancos já estão fazendo isso faz tempo, como o Bradesco (http://www.bradesco.com.br). No entanto, o programa da Receita (RecNet) é muito mais fácil de usar, não é preciso ser especialista na Internet para isso. Além disso é muito mais seguro para o usuário, pois como ele necessita gravar uma informação em disco (a autenticação e recibo com assinatura eletrônica), não corremos o perigo de receber um vírus de computador.
Aliás, por falar em Bradesco, um dos grandes negócios nessa virada de século será o Home Banking, ou seja, a possibilidade de comandar a partir do micro de sua casa ou escritório praticamente todos os serviços bancários. O Bradesco tem um site pioneiro e extremamente bem-feito, que permite o usuário realizar através da WWW quase todas as funções de um caixa automático, exceto saques ou depósitos. É possivel solicitar-se saldos, extratos, transferências, aplicações e desaplicações, solicitação de documentos ou de talões de cheques, pagamento automáticos, etc. Tudo muito confortável e funcional. A única coisa que atrapalha são um monte de execuções na linguagem Java, que, para qualquer micro menor que um Pentium 100 MHz com 16 Mb de memória, causa uma lentidão bastante grande.
O próximo passo é acoplar as funções de Home Banking através da Internet, com as da declaração do Imposto de Renda. Por exemplo, todos os saldos de aplicações financeiras, contas correntes, rendimentos de investimentos, pagamentos de seguro-saúde, etc., poderão ser transferidos automaticamente dos vários bancos e financeiras diretamente para dentro do software de declaração. Isso evitará muito trabalho de digitação, maçante e sujeito a erros. O pagamento das parcelas de imposto devido também poderá ser feito diretamente de conta a conta.
Cada vez mais as pessoas estão aprendendo a usar o computador para controlar melhor as suas finanças pessoais. A minha última "descoberta" foi o Microsoft Money, um ótimo software que permite o controle total de todas as suas contas bancárias, poupança, investimentos, cartão de crédito, orçamento pessoal; enfim um sistema competentissimo de contabilidade, muito agradável e fácil de usar. O seu concorrente direto nos EUA é o Quicken (que a Microsoft tentou comprar, mas não conseguiu), e que também é muito bom. Na hora de escolher um ou outro, fiquei com o da Microsoft, pois o Bradesco,que é o meu banco, já tem o serviço de controle financeiro pela Internet, a partir do seu site, acoplado diretamente com o Money (o software tem um módulo de On-Line Banking). Ao que tudo indica, será mais um "casamento" tecnológico importante.
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 06/05/97.
Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br
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