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A Web personalizada

Renato Sabbatini

Um dos problemas mais sérios da WWW, que é o excesso de informação, tem uma solução relativamente simples, que está sendo adotada por um número cada vez maior de servidores de informação. Trata-se da personalização da página de entrada, ou seja, para cada visitante que acessa a página é oferecida uma visão personalizada de acordo com uma série de preferências registradas anteriormente pelo próprio visitante, ou detectadas automaticamente por software inteligente.

Os sites que oferecem mecanismos de busca e catálogos na Internet, como Lycos, Excite, Yahoo! e outros, foram os primeiros a embarcar nessa nova tecnologia. O usuário que quer se registrar preenche um formulário detalhado, informando os assuntos pelos quais se interessa mais, notícias, etc., e pode até escolher o padrão de exibição da página (letra, fundo, padrões gráficos, etc.). O servidor então registra essas preferências em uma base de dados. A próxima vez que o site for visitado, o servidor gera automaticamente a página personalizada.

Aqui no Brasil, um dos primeiros provedores de informação a utilizar essa técnica foi a Universo On-Line, do grupo Folha de São Paulo (http://www.uol.com.br), mas não foi uma coisa que se generalizou muito, pois o software necessário para fazer isso não é brincadeira (alguns pacotes comerciais chegam a custar 50 mil dólares). Nos EUA, entretanto, o retorno comercial dessa abordagem é muito maior, através dos anúncios (que também podem ser personalizados), e portanto o número de sites é maior. Existem até mesmo sites personalizados na área de notícias. Um dos melhores é o NewsPage (http://www.newspage.com), que além de personalizar a sua página por meio da escolha de uma lista de assuntos e sub-assuntos, envia para seu email diariamente um resumo das principais notícias, apenas nos assuntos escolhidos. É uma combinação muito interessante de tecnologia "push" (correio eletrônico) com tecnologia "pull" (visita a um site na WWW), que reduz imensamente a sobrecarga de informação e o tempo gasto em selecionar quais notícias eu quero ler. Funciona como uma espécie de filtro.

O grau de inteligência desse filtro ainda é pequeno. Na maioria das vezes, consiste em comparar as categorias da informação desejada com o perfil registrado do usuário. Se o perfil coincide, a informação é montada na página. Um sistema simples desse, como o My Excite (http://www.excite.com) atraiu milhões de pessoas quando foi anunciado. O retorno é excelente, pois o pessoal da Excite notou que essas pessoas voltavam a visitar a página cinco vezes mais do que os usuários normais.

No entanto, os serviços de personalização ainda estão longe do ideal. Eles são difíceis de usar, exigem informação demais por parte do usuário, e não permitem uma sintonia mais fina dos interesses. Ao invés de usar perfís de interesse estereotipados, por exemplo, deveriam utilizar palavras-chave, similaridades de conceitos, e outras tecnologias inteligentes, que já existem.

Um dos caminhos possíveis é ter um software do lado do servidor, que "observa" tudo o que o usuário de um site acessa. Depois de um certo tempo, o software é capaz de construir automaticamente um perfil altamente acurado de interesse do usuário (desde que ele visite o site várias vezes), e assim ser capaz de personalizar a página. Existem diversos softwares desse tipo à venda, como o Learn Sesame, recém-lançado.

O problema é que os usuários não estão gostando muito do uso que as empresas de personalização estão fazendo dos dados que eles fornecem para poder utilizar (geralmente de forma gratuita) os sites. Em muita gente, o perfil coletado de forma aberta (preenchimento de formulários) ou subreptícia (observação automática) constitui-se em uma quebra de privacidade e uso ilegal de informação pessoal. As empresas de personalização podem vender essa informação para agências do governo, marketing por correio eletrônico, bancos e outras pragas, piorando em muito a situação já calamitosa de "spamming" e propaganda não solicitada através da Internet. Sem falar que os seus hábitos e preferências sexuais, de consumo e de comunicação acabam ficando disponíveis para quem quiser usar, para o bem ou para o mal.

Devido à própria natureza da Internet, vai ser muito difícil coibir esse tipo de coisa. O que precisamos é de alguns padrões éticos para a indústria da informação.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 21/4/98.

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