O principal padrão de integração de informação em vários formatos (multimídia) que surgiu nos últimos anos foi o da World Wide Web (WWW). Ela é um conjunto de tecnologias baseadas no hipertexto, e que foi inventado há cerca de 6 anos atrás pelo físico Tim Berners-Lee, que na época trabalhava no Centro Europeu de Energia Nuclear, em Genebra, Suiça. Como Gutemberg em sua época, Berners-Lee desenvolveu sozinho todos os aspectos da nova tecnologia: a linguagem, o protocolo, o software servidor e o software cliente (ou "browser"). Inicialmente restrito apenas ao ambiente acadêmico, para publicação eletrônica de trabalhos de pesquisa, quando a Internet se restringia quase que exclusivamente ao email, a Web deslanchou mesmo quando foram desenvolvidos browsers gráficos para UNIX e Windows, como o Mosaic e o Netscape. Berners-Lee trabalha hoje no MIT e é o presidente do Consórcio W3 (www.w3c.org).
O enorme sucesso da Web levou a uma mudança total no paradigma para agregação e integração da informação através da Internet. No entanto, esse paradigma também influenciou o aparecimento de um outro conceito muito interessante, que está revolucionando as empresas: trata-se da intranet. Este é um termo usado para caracterizar uma rede local de computadores (ou seja, restritos a uma determinada área, prédio ou instituição) que utiliza a mesma tecnologia desenvolvida para a Internet.
Explicando melhor: quando surgiram as primeiras redes locais, foi necessário desenvolver softwares operacionais específicos, que possibilitassem a comunicação entre os computadores ligados à mesma. Esses softwares eram construídos sobre determinados padrões de sistemas operacionais (o software básico que acompanha todo computador), tais como UNIX, DOS e Windows. Por exemplo, um dos sistemas de rede de maior sucesso para o mundo do DOS foi o NetWare, desenvolvido por uma empresa americana chamada Novell.
Com a popularização da Internet, e, principalmente da WWW, começou-se a implementar funções e métodos de acesso desenvolvidos para ela, em redes locais. A Internet se baseia em um conjunto de padrões abertos (públicos), denominados protocolos. O principal protocolo da Internet se denomina TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol), e com base nele foram desenvolvidos vários outros, que permitem, por exemplo, a transmissão de correio eletrônico (SMTP e MIME), a transferência de arquivos (FTP), o acesso remoto por terminais (TELNET) o bate-papo eletrônico (IRC) e outros mais. O protocolo principal da Web, usado para representar e enviar hipertextos e multimídia se chama HTTP (Hypertext Transfer Protocol).
A colocação de todos esses protocolos em uma rede local, permite, portanto, a montagem e operação de uma espécie de Internet particular, que é jsutamente a intranet. Quando a rede local se estende a outros pontos distantes geograficamente (o que em computação se chama rede de área ampla), então a intranet vira uma extranet. Tanto intranets quanto extranets têm seu acesso protegido através de senhas e outros mecanismos de segurança, por não serem públicas, mas é muito comum as intranets e extranets serem integradas à Internet.
As intranets e extranets estão sendo utilizadas cada vez mais para um grande número de aplicações em instituições e empresas de todo tipo, que vão desde a implementação de serviços internos de informação, com livros e guias on-line, documentação administrativa, normas e guias, até sistemas interativos para registro de informações através de formulários, uso de bancos de dados, bibliotecas eletrônicas para os funcionários, etc. Uma de suas grandes vantagens é que, com o sucesso da Internet, não há praticamente mais necessidade de treinar um grande número de usuários dentro da empresa para utilizar os softwares: eles são os mesmos utilizados para navegação na Internet.
Na área médica, por exemplo, uma das aplicações mais fascinantes das intranets é a implementação do registro médico multimídia, que um dia irá substituir completamente o atual prontuário em papel dos pacientes. Ele pode incluir não somente as fichas de texto do paciente, mas também imagens, sons (por exemplo, ruidos cardíacos) e sinais (ECG), etc. Conectando-se a intranet à Internet pública, os médicos credenciados também poderão ter acesso ao registro médico em suas casas ou consultórios, permitindo uma integração real e acesso rápido às informações sobre os pacientes nela contidas.
Finalmente, um dos aspectos mais interessantes das intranets é que os funcionários da empresa também podem passar a ser produtores de informação para o sistema, deixando de ser apenas consumidores da mesma. É o prossumidor que entra em cena (produtor + consumidor). Com as intranets, as empresas e instituições estão economizando milhões de dólares em papelada e em procedimentos custosos, lentos e burocráticos de documentação interna. Além disso, as intranets ajudam o processo de democratização do acesso à informação e de participação do funcionário na gestão. Uma aplicação que se alastrou com grande força e velocidade foi a dos "groupwares", ou softwares feitos especificamente para permitir a intercomunicação e a colaboração entre as pessoas de um grupo que está desenvolvendo um projeto em comum. O Microsoft NetMeeting é um desses programas. Ele permite também utilizar a intranet para teleconferência em tempo real, usando áudio ou vídeo, associado a "chat" de texto e ao uso simultâneo de softwares como o MS Word simultaneamente pelos vários integrantes do grupo (compartilhamento de aplicativos).
Uma evidência do sucesso das intranets
é que atualmente mais de 60% das empresas dos EUA têm intranets
instaladas, e 20% pensam em instalar em futuro próximo. A grande
maioria dos computadores servidores vendidos no mundo têm como destinação
o uso em intranets.
Veja também: Índice
de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no
Correio Popular.
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 24/9/99.
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