A Mente de um Terrorista
Um desses especialistas, Brian Jenkins, em uma recente entrevista para a rede de TV americana NBC, conseguiu identificar entre radicais árabes o perfil médio desse tipo de terrorista: "é um jovem de sexo masculino, criado em família religiosa, que é abordado por grupos radicais, e convencido, recrutado, testado e treinado para ser uma bomba humana. Ele age com a convicção de que Deus aprova suas ações, e que ele ganhará o Paraiso por isso". Outra motivação importante é um senso de raiva, vingança, desespero, futilidade, fim da vida. Os recrutas ideais são jovens que perderam parentes ou amigos em guerras ou escaramuças como o Intifadeh em Israel, estão desempregados, e se sentindo desamparados e sem saída. A missão terrorista passa a ser um novo e valioso objetivo em suas vidas, valorizado pela comunidade e pelo novo grupo social que agora o tem em suas mãos. Ele é submetido a uma implacável lavagem cerebral, e a pressão do grupo social, a vontade de ultrapassar o que outros já fizeram, torna-se o impulso dominante do terrorista em formação. E essa é a terceira motivação importante do terrorista suicida: é a glória, o heroísmo, que levará colegas e parentes a chorarem de emoção pelo despreendimento e coragem daquele que se voluntariou para morrer. Ele vai desaparecer, mas vai deixar a sua marca, algo atrás de si, que provocará o orgulho de todos que não morreram. Os instintos básicos humanos, as emoções e a própria razão, são modificados e comandados por um complexo biopsicossocial. Por exemplo, a declaração dos mulás islâmicos que matar e morrer em nome de Alá é um objetivo digno e permitido pela religião (que tem, no entanto, mais mandamentos proibindo esse tipo de coisa do que o cristianismo) libera as tradicionais sanções e inibições contra o assassinato. É a guerra santa, ou "Jihad", que faz tanta diferença nas mentes desses jovens fanáticos. Um inglês, americano ou inglês que se horroriza e repudia atos como os que aconteceram em Nova Iorque e Washington, é o mesmo tipo de cidadão que também bombardeou Hamburgo e Dresden, Hiroshima e Nagasáqui, Coventry, Londres e Guérnica, matando, sem piscar um olho sequer, dezenas de milhares de pessoas num espaço de poucas horas. E não nos esqueçamos, também, que eles foram abençoados antes de partir para suas missões, por padres, pastores e monges de suas respectivas religiões…
Nada de novo sob o sol, portanto. Somente conseguiremos entender o que se passa na mente de um terrorista se estudarmos também o que transforma pessoas normalmente pacificas em guerreiros sangüinários. Acredito que as motivações são muito parecidas, e que é muito pequena a diferença entre o que é terrorismo e o que é ação justificada de estado e de uma população que se levanta em função de um objetivo social maior.
Outra coisa diz respeito a como convencer um jovem a imolar-se voluntariamente para realizar uma determinada tarefa de guerra. Existe uma diferença entre o soldado, aviador ou marinheiro comum e o suicida: os primeiros esperam sobreviver, apesar das chances serem altas de morrer; enquanto que o suicida sabe que vai morrer, caminha diretamente para a morte.
Os americanos ficaram estupefatos, na Guerra do Pacífico (1942-1945) com os famosos "kamikazes", ou pilotos suicidas japoneses. Milhares deles se sacrificaram, jogando seus aviões ou submarinos contra alvos aliados, causando enormes estragos, que foram insuficientes, porém, para deter o avanço das belonaves contra seu país. Nós, ocidentais, somos incapazes de entender a mente de um "kamikaze". No entanto, para japoneses (e muçulmanos) é uma coisa que faz parte de sua formação moral e religiosa. Os três grandes motores do ataque suicida são: a religião, o patriotismo e a ideologia; levados ao extremo fanático.
Para os "kamikazes", era uma grande honra morrer pelo Imperador e pela Pátria. Todos os soldados, aliás, em todos os países, fazem esse juramento: estão dispostos a morrer por algo ou alguém (lembram-se do Hino Nacional? "ou ficar a Pátria livre, ou morrer pelo Brasil!"). Mas somente algumas etnias ou religiões levam isso ao pé da letra e promovem o ataque suicida como uma forma socialmente santificada e massiva de técnica de guerra. E mesmo assim, somente em situações extremas, porque, evidentemente, é uma técnica que acaba destruindo o seu próprio objetivo, acabando com os guerreiros mais valentes e corajosos, e enfraquecendo as forças armadas regulares. A sensação de desespero dos japoneses no final da guerra impeliu-os para isso, e a enorme pressão social levou milhares de jovens a se apresentarem como voluntários, morrendo na flor da idade, em vão. O massacre foi de tal ordem que a força aérea japonesa perdeu totalmente a combatividade, ao se ver privada da maioria dos seus melhores pilotos. Caso o Japão fosse invadido pelos aliados, não haveria resistência aérea significativa, justamente por causa dos excessos "kamikazes".
A conclusão é que a única coisa que os povos podem fazer para evitar o terrorismo, a guerra de aniquilação, e tantas outras mazelas violentas que há dezenas de milhares de anos fazem parte da própria essência das sociedades humanas, é encorajar a tolerância e a justiça social entre os povos, é renunciar à vontade de dominar, subjugar e vencer pela força. Conquistar corações e mentes: não é essa a mensagem? O odioso terrorismo que se abateu sobre o povo americano (e que se abate diariamente em tantas partes do mundo, que não dão tanto IBOPE na tevê), ao ser vingado por Bush, somente levará a uma espiral crescente de mais violência. Estas são noções elementares, ensinadas por todas as religiões da Terra. Mas, paradoxalmente, os ensinamentos humanistas de Cristo, Buda e Maomé são os primeiros a serem postos de lado por essas mesmas religiões, quando o brados da guerra e da vingança se fazem ouvir….